Pessoas com mais informação têm maior capacidade de enumerar detalhes que apoiam sua visão Photo by: faungg's photos/Flickr
Simplesmente bombardear as pessoas com informações
científicas confiáveis não é suficiente para que elas tomem decisões
sensatas sobre temas complicados, indica um novo estudo feito nos EUA.
Os resultados reforçam a hipótese de que, quanto mais as pessoas
aprendem sobre ciência, menos elas tendem a concordar entre si em
relação a assuntos polêmicos, como a teoria da evolução, as mudanças
climáticas e o Big Bang.
A pesquisa, que acaba de sair no periódico
especializado "PNAS", da Academia Nacional de Ciências americana, foi
realizado por Caitlin Drummond e Baruch Fischhoff, ambos da Universidade
Carnegie Mellon. Eles fizeram uma análise estatística dos dados do GSS
(sigla inglesa de "Pesquisa Social Geral"), iniciativa da Universidade
de Chicago que examina periodicamente as opiniões do público americano a
respeito de uma série de temas relevantes, ouvindo uma amostragem
representativa da população.
Na análise em questão, os dois pesquisadores
avaliaram as respostas de cerca de 2.500 americanos, entrevistados
durante as edições de 2006 e 2010 do GSS, sobre temas científicos
importantes da atualidade: nanotecnologia, alimentos geneticamente
modificados, mudanças climáticas, evolução humana, pesquisa com
células-tronco e o Big Bang.
As opiniões dos entrevistados sobre tais assuntos
foram cruzadas com informações sobre seu nível de escolaridade geral,
sobre sua educação formal em ciência (se a pessoa tinha cursado
disciplinas científicas no ensino médio e na universidade ou não) e
sobre seu nível de alfabetização científica (nesse caso, o GSS submeteu
os participantes a testes de conhecimentos sobre ciência).
Mais importante ainda, os dados educacionais foram
cruzados com fatores como posição política (no espectro entre liberal e
conservador, vagamente equivalentes aos nossos "esquerda" versus
"direita"), nível de religiosidade e nível de confiança pessoal na
ciência (do tipo "confio muito na ciência" versus "não confio em
cientistas de modo geral"). Outros estudos já tinham indicado que essas
variáveis de posicionamento ideológico têm impacto importante sobre a
maneira como as pessoas enxergam temas científicos –às vezes, um impacto
até maior do que o conhecimento da pessoa sobre aquele tema.
Exemplos disso são áreas como a evolução humana a
partir de formas mais antigas de primatas, frequentemente rejeitada pelo
público que faz uma leitura "ao pé da letra" do texto da Bíblia, ou o
efeito da ação humana sobre o clima, às vezes questionado por quem tem
inclinação política conservadora –embora, em ambos os casos, não haja
dúvidas na comunidade científica sobre a realidade de ambos os
fenômenos.
Resultado da análise: nos temas que envolvem crenças
religiosas e/ou identidade política (mudanças climáticas, evolução
humana, Big Bang e células-tronco), as diferenças de opinião aumentam
conforme o nível educacional geral e o conhecimento sobre ciência das
pessoas também aumenta. Ou seja: enquanto um liberal com bom
conhecimento científico tende a aceitar amplamente o consenso da
pesquisa, que diz que o homem é o principal responsável pelas alterações
recentes no clima do planeta, um conservador com o mesmo conhecimento
razoavelmente bem embasado tende a ter opinião contrária, negando a ação
humana.
O mecanismo que leva a essa distorção não está claro,
mas uma possibilidade, dizem os pesquisadores, é que a pessoa com mais
informações sobre um tema tem capacidade maior de enumerar detalhes que
apoiem a sua própria posição pré-concebida –mesmo que ela não bata com o
que os cientistas propriamente ditos avaliam como o correto.
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- August 22nd, 2017
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