Por Fernando Brito · 25/07/2018
Entrei na universidade nos anos 70, em plena ditadura militar.
Nem naqueles dias seria imaginável que uma instituição de ensino, que goza de autonomia, abrisse uma sindicância para investigar o lançamento de um livro de seus professores.
Muito menos que se prestasse a interroga-los sobre se houve “manifestações de desapreço e contra o Presidente Temer e integrantes do poder judiciário-MP?”, como consta do questionário enviado aos professores Gilberto Maringoni, Giorgio Romano e Valter Pomar por uma “Comissão de Sindicância Investigativa” da Universidade Federal do ABC, onde lecionam, por terem lançado o livro “Lula – A Verdade Vencerá” dentro da universidade.
O livro, lançado com tiragem de 30 mil exemplares – imensa, para os padrões do mercado editorial brasileiro – e já traduzido para outras línguas, como você vê na imagem da vitrine de uma livraria italiana – é, na essência, uma longa entrevista concedida por Lula aos jornalistas Juca Kfouri e Maria Inês Nassif, ao professor Maringoni e à editora Ivana Jinkings, fundadora e diretora da editora Boitempo.
Os meganhas acadêmicos querem descobrir – uau! – se foram vendidos alguns exemplares dentro da Universidade.
Se quiserem, podem vir me prender, também, porque em meus tempos de Centro Acadêmico cansamos de vender livros dentro do prédio da UFRJ, na Praia Vermelha!
O que é isso, sabujice ou medo de que algum “gravatinha” do MP ou delegado da PF, por conta deste “crime”, venham pegar os dirigentes da Universidade – criada e inaugurada, aliás, pelo “monstro” que o livro retrata – e fazer o que fizeram ao reitor da Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier, conduzido por homens armados, despido, humilhado e dolorido ao ponto de, dias depois, ter se suicidado?
Desculpem, quem não tem independência e dignidade não presta para um ambiente acadêmico.
A história foi revelada ontem pelo blog Nocaute, do jornalista Fernando Morais, e não está na grande mídia, que só gosta da autonomia universitária quando os governos são de esquerda.
O fascismo, no Brasil, já não é calouro nas universidades.
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