6 de nov. de 2018

Diálogo com um "liberal" - Parte 2 de 2

Liberal: O artigo ("Por que devemos tratar a foice e o martelo da mesma maneira que tratamos a suástica") não tem nada a ver com escola austríaca. Você discorda de que o nazismo e o comunismo devem ser igualmente enojados?

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Eu: Instituto Mises é da escola austríaca. Eu acho que qualquer tipo de autoritarismo deve ser "enojado".

Nazismo implica autoritarismo. Comunismo não implica.

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Liberal: Eu sei disso, to falando do artigo em si.

Mas é exatamente isso que o artigo fala. No nazismo vc abertamente fala que existe uma raça superior e não tem como justificar isso. No comunismo é tudo simbólico, sempre se pode falar "isso não foi socialismo" e justificar todas as atrocidades que o regime causa. 

Ele até da o exemplo de alguem que andasse com uma camisa estampada de Hitler e alguem com a camisa estampada de Che Guevara. O primeiro seria preso e o segundo é relacionado a "rebeldia juvenil" sendo que o segundo matou igualmente pessoas quanto o primeiro.

Recomendo que leia o artigo, ele comenta sobre aquilo que vc também ja me disse "não houve socialismo de verdade no mundo".

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Eu: Hitler foi um todo-poderoso que criou uma máquina de guerra para impor sua vontade. A revolução cubana foi um bando que desafiou e (num certo sentido) venceu o imperialismo do todo poderoso USA.

Toda forma de poder busca legitimar-se, seja numa teoria econômico-social, ou religiosa. Se for para enojar a foice e o martelo, por consistência, deveríamos enojar a cruz também. Quantas barbaridades não foram (e são feitas) em torno do cristianismo?

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Liberal: Hitler também fez isso, Hitler foi um movimento das massas, uma revolução. O povo o colocou no poder.

A revolução cubana criou uma máquina também que controla todas as pessoas lá até hoje, e tras todas as implicações que nós já sabemos, fome, miséria e etc.

Há uma diferença básica, o cristianismo fez atrocidades também, reconheceu o seus erros e prega a paz. As pessoas que nele estão envolvidas não são obrigadas a estarem, ja em um regime socialista todos que nascem em certa região estão fadados as regras do estado. Famoso "Contrato Social"

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Eu: Quantos países Cuba invadiu ou entrou em guerra com?

Gostaria que você comparasse por favor os índices de fome, miséria, analfabetismo, mortalidade infantil entre Cuba e Brasil por favor, bem como a taxa de homicídios por 100.000 habitantes

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Eu: Sobre a Igreja, você fala somente da história recente. Por muitos anos não foi o caso. Por que o cristianismo pôde evoluir temporalmente, e uma outra teoria (ou doutrina) não?

Sobre a ascensão do Hitler, eu foi eleito democraticamente e depois legitimou seus poderes ditatoriais com os argumentos que você conhece bem. A máquina de guerra dele colocou virtualmente todo o globo numa terra total, além de ter os campos de concentração. A Alemanha era um país industrializado e soberano antes disso.

É uma enorme injustiça comparar a Alemanha com Cuba. Cuba era um país subdesenvolvido, "quintal" dos EUA e que o queria manter assim. 

Permita-me então refletir sobre o rumo da discussão e entender o por quê de você usar este artigo aqui. Eu defendo que há um "abismo" entre a ideologia fascista e a marxista, enquanto que você defende o contrário. Espero que a dimensão bélica ou letal das duas "máquinas" seja evidente, assim como sua dimensão simbólica. Enquanto o fascismo buscou impor uma visão racista e autoritária ao mundo, a revolução cubana encarna o rebelde e fraco contra o todo poderoso imperialismo ("Davi contra Golias"), sendo o seu principal expoente morto pela CIA.

Ao usar o referido artigo nesta discussão, minha única conclusão é a de que você quer associar a ideia de que um regime socialista é algo que "causa mal" às pessoas que nele vivem. Não achei nenhuma correlação do artigo com relação a transformar o governo numa máquina de repressão e morte, e nem referências a alienação pela ideologia socialista.

Nestes termos, "pobreza" seria algo que irremediavelmente seria ruim para as pessoas. Pretendo então refutar essa premissa sob três frentes: argumentação histórica, os dados do OurWorldInData.org, e a fonte utilizada (que por si só poderia dispensar os dois primeiros).

Primeira linha. Veja que há uma evidente e histórica correlação entre "pobreza" e "revolução socialista": um país industrializado, "rico", jamais oferecerá o apoio de expressiva parcela da população para uma mudança da estrutura de governo e economia. Por exemplo, Hitler subiu ao poder justamente com o medo da burguesia alemã com os trabalhadores marxistas. Foi a desindustrializada Rússia dos Czares que abrigou a primeira revolução.

Logo, temos uma explicação histórica para a origem da "pobreza": eles são pobres e por isso tornam-se socialistas, e não o contrário. Mas e por que estes países não tornam-se "ricos"? Para mim, o fato da União Soviética ter liderado toda a corrida espacial, com exceção do pouso lunar, é uma evidente demonstração de riqueza (algo que o Brasil não será capaz de fazer um dia, infelizmente). No caso específico de Cuba, eu te pergunto como um país com uma área de 40% a do estado de São Paulo, sob fortíssimo embargo internacional imposto pelos EUA, teria condições de desenvolver-se?

Eu pessoalmente acho esse tipo de artigo de uma desonestíssima integridade. Seria o mesmo que eu pegar um pobre país africano, regido há décadas pelo regime capitalista, e concluir que "onde há capitalismo, há pobreza". Ignora-se história, tendências de governantes, influências externas, etc...

Segunda linha. O que é pobreza? Renda per capita? PIB (ou GDP)? Outra desonestidade: usar uma métrica capitalista (dinheiro) para avaliar o padrão de vida de um país socialista. Seguem uma série de gráficos do http://ourworldindata.org mostrando números que falem por si só. 


  

  

 

Chamo a atenção para a taxa de violência: Cuba sob o "repressivo e violento" governo tem uma taxa de homicídios quase cinco vezes menor que o "democrático e livre" Brasil. 

Em todas as seguintes métricas, Cubas oferece melhores condições de vida que o Brasil: alfabetização, expectativa de vida, fome, IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), mortalidade infantil, mortalidade materna, e a taxa de homicídios.

Terceira linha. Novamente um artigo da "escola austríaca"? Você ponderou sob os pontos que levantei do imperialismo cultural e alienação ideológica? Como demonstrei acima, este tipo de artigo não me parece nada isento (para não dizer desonesto). 

Encerro esta terceira linha com um desafio: um artigo de um instituto fundado num país colonizado ("em desenvolvimento", para usar o eufemismo da moda) que afirme que o martelo e foice são "tão perigosos quanto a suástica", e que o socialismo "só mantém as pessoas na miséria". 

Sobre este último ponto, eu peço para que seja feita uma análise da Teologia da Libertação. Se você pesquisar por "mistura de cristianismo mal interpretado com marxismo de orelha", você deve achar alguma coisa na linha dos austríacos. 

Abraço!

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