Trata-se de um expediente de longo pedigree nos anais da história
brasileira. Políticos ultraconservadores na década 1920, líderes
integralistas nos 1930 e ideólogos da ditadura militar denunciaram seus
opositores por degeneração sexual e o declínio moral. Assim como ocorre
hoje, eles também usavam os meios de comunicação com destreza. A obra de
referência é do historiador Benjamin Cowan, “Securing Sex: Morality and
Repression in the Making of Cold War Brazil” (2016).
A expressão contemporânea desse tipo de ativismo moralista precede a
chegada de Bolsonaro ao poder. Seus líderes, na década de 2000, foram
Silas Malafaia e Marco Feliciano, para quem a esquerda representaria uma
séria ameaça à família tradicional e à sexualidade convencional. Da
Índia à Turquia, de Israel aos Estados Unidos, esses argumentos estão
vivos e têm força.
O ato do presidente revela que a crise política que impede a
restauração da economia está longe de acabar. E promete que a guerra
cultural não se reduzirá a mera estratégia de campanha. É uma forma de
governar.
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