Gemini
O Observatório Gemini surgiu com a proposta de construir dois telescópios de 8.1m de diâmetro cada, um no hemisfério norte (Havaí) e outro no hemisfério sul (Chile). A primeira newsletter (ou seja, uma publicação contando as notícias) do Gemini é de março de 1992. Podemos tomar esta data como o início o observatório.
O Brasil se filiou ao Gemini um ano depois, em 31 de março de 1993. A autoridade nacional endossando a filiação foi Carlos Alberto O. Torres, então diretor do LNA - Laboratório Nacional de Astrofísica.
O telescópio Gemini Norte (Havaí) ficou pronto em junho de 1999 (construção efetiva de 1994 a junho de 1999, ou ~5 anos) e o telescópio Gemini Sul (Chile) ficou pronto em janeiro de 2002 (de 1995 a 2002, ~7 anos de construção).
Do início das operações até 2010, o Brasil contou com a fração de 2,5% do tempo dos telescópios. Com a saída do Reino Unido do consórcio Gemini, foi negociado uma fração de tempo maior para o Brasil. Desde 2010 o país passou a ter 6,0% do tempo dos telescópios. O diretor do LNA que ratificou essa expansão foi Albert Bruch.
SOAR
Logo após a participação brasileira no Gemini em 1993, iniciaram as discussões para também participar do telescópio SOAR. O SOAR é um telescópio de 4.1m, construído na mesma montanha do telescópio Gemini no Chile. Desde 1995 o Brasil é parceiro do SOAR. O diretor do LNA nesta época era Edemundo Vieira.
O projeto do telescópio SOAR foi aprovado em 1998. Sua construção foi concluída em 2004 (~6 anos de construção). O Brasil conta com 33% do tempo do telescópio desde então.
PS: No fim de setembro de 2020 o Ministério de Ciência e Tecnologia renovou por mais 5 anos a parceria brasileira no SOAR.
ESO
A participação brasileira no Observatório Europeu do Sul (ESO na sigla em inglês) foi uma tentativa que acabou não se concretizando. Iniciou-se com uma "carta de intenção" da adesão assinada pelo então ministro da ciência e tecnologia Sérgio Resende, à dois dias do término do segundo mandato do presidente Lula (29 de dezembro de 2010).
A adesão ao consórcio europeu possui características distintas da participação em telescópios majoritariamente estadunidenses, como o Gemini e o SOAR. No modelo estadunidense, é possível adquirir uma fração específica do tempo do telescópio e pagar proporcionalmente a este. No modelo europeu, os países membros são igualmente proprietários de toda a infraestrutura, e o acesso ao tempo dos telescópio se dá exclusivamente pelo mérito científico. O pagamento é proporcional a ao Produto Interno Bruto (PIB, ou "riqueza") de cada país - e PIB brasileiro é maior do que a maioria dos países europeus. Ou seja, o custo para o Brasil seria expressivo, mesmo possuindo uma menor infra-estrutura de pesquisa para a competição no uso dos telescópios.
Com a carta do ministro Resende, o ESO automaticamente promoveu o Brasil a condição de país membro do consórcio. Nesta época (2011), o projeto do telescópio de 40m de diâmetro chamado ELT (em inglês, Extreme Large Telescope) estava em discussão, mas o financiamento de sua parte inicial não estava assegurado. A adesão garantiria ao Brasil o acesso ao ELT e a uma variedade de telescópios europeus em operação no Chile.
Os trâmites legais da adesão brasileira ao ESO avançaram de forma lenta durante o governo Dilma. Como exemplo, a aprovação pela câmara de deputados só aconteceu em seu segundo mandato, em março de 2015. Neste momento a crise econômica e política do governo, cujo impeachment ocorreu em agosto de 2016, inviabilizaram a continuidade do processo.
Em paralelo a adesão brasileira, o ESO então buscou outras filiações. Em outubro de 2014 a Polônia se filiou, e em 2017 foi firmada uma parceria do ESO com a Austrália. No início de 2018 as negociação para a adesão da Irlanda estavam avançadas e o financiamento do ELT assegurado. Em 12 de março de 2018 o ESO oficialmente retirou o Brasil como membro, uma vez que não foi feito nenhum dos pagamentos de adesão. A Irlanda concluiu sua filiação em 28 de setembro de 2018.
A construção do ELT na montanha se iniciou em 2014, e a previsão de conclusão no início de 2020 é de 2025.
GMT
O telescópio GMT (em inglês, Giant Magellan Telescope) é o projeto de um telescópio de 25m de diâmetro, a ser localizado no Chile. Este espelho primário é formado por um mosaico de 7 espelhos de 8.4m cada. Já em 2005, uma associação de universidades e institutos de pesquisas estunidenses iniciaram a fabricação do primeiro destes espelhos de 8.4m.
Em 2011 foi enviada uma proposta à FAPESP para a adesão do estado de São Paulo ao GMT. A adesão da FAPESP neste consórcio se daria em termos similares a participação nacional nos telescópios Gemini e SOAR, com uma fração de tempo de uso garantida.
Dada a não concretização da adesão brasileira ao ESO até meados de 2014, a FAPESP ratificou a participação em aproximadamente 4% do tempo do GMT em novembro de 2014. O diretor da FAPESP nesta época era Carlos Brito Cruz. Seguindo as políticas de financiamento da agência, o projeto GMT foi hospedado na USP (Universidade de São Paulo), e tem como "investigador principal" João Steiner.
Após a adesão da FAPESP, em 2015 iniciou-se a construção do GMT na montanha. Inicialmente previsto para ser concluído em 2021, o cronograma do telescópio foi atualizado e a previsão de conclusão no nício de 2020 é de 2029.
O futuro
SOAR: A parceria brasileira abrangeu os 17 anos iniciais do SOAR, e precisa ser renovada pelo governo federal até 30 de setembro deste ano (2020). Dada a crise econômica pelo qual o país atravessa, um grande esforço da comunidade científica é necessário para esta continuidade.
Gemini: A participação brasileira que foi expandida em 2010 precisa ser renovada em 31 de dezembro de 2021. Assim como no caso do SOAR, será necessário negociar com o governo federal, que estará concluindo seu mandato, para a manter o vínculo nacional ao observatório.
ESO: Os governos Temer e Bolsonaro nunca trouxeram esta pauta para discussão, dados os valores milionários envolvidos.
GMT: A politica de financiamento da FAPESP assegura o pagamento da taxa de adesão, e o uso da fração de tempo adquirida por qualquer pesquisador do estado de São Paulo. Porém, os custos de operação do telescópio, que são cobrados a partir do término da construção, devem ficar a cargo da instituição sede, que é a USP. A USP passa por uma crise orçamentária desde 2014, porém há muito a se evoluir até 2029. O principal desejo é que o governo federal assuma estes custos de operação, o que permitiria o GMT ser acessado por qualquer pesquisador em instituição nacional.
*Texto atualizado em 01 de outubro de 2020. Publicado originalmente em 22 de fevereiro de 2020.
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